Cânone
quando eu era da quarta série
dentro do portão da escola estadual Madre Belém
ganhei um concurso de poesia
na categoria dos adultos
o jurado era um poeta grande, vindo de longe
o poema sobre solidão me rendeu
uma pilha de livros como troféu
busquei por toda a escola
pelo poeta grande
para que ele pudesse autografar os livros
– que não havia escrito
o poeta grande se foi no tumultuário
entre professoras e coordenadoras
para fora do portão
– como desaparece um presidente
alguém avisou a quadra onde o poeta grande presidente morava
soei as campainhas com os livros nas mãos
“não, não tô vendendo não”
até entrar pelo portão da casa do poeta grande presidente
e ele pegou os livros com a caneta que eu levava
colocou sobre a mesa da cozinha sua linha de produção
eu reparei no alto do armário
apontei e exclamei:
lá em casa tem uma lata de panetones Bauducco igualzinha a essa!